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Angela Bueno e Claudia Schverz

Entre lágrimas e sorrisos: relatos de uma noite regada a futebol em Buenos Aires

Atualizado: 9 de dez. de 2021

A noite em que os alunos de Jornalismo da Unochapecó levaram um athleticano

em um bar colorado para a final da Copa do Brasil entre Inter e Athletico

Por Angela Bueno e Claudia Schverz

As viagens acadêmicas do curso de Jornalismo da Unochapecó são sempre com o roteiro cheio e diversificado. Durante o dia visitamos pontos turísticos, conhecemos a história, as artes e a cultura do local. Quando o sol se esconde, os acadêmicos se reúnem para festar em barzinhos, baladas ou até mesmo no hotel.


A noite do dia 18 de setembro de 2019 seria inesquecível. Todos os colorados que foram na viagem para Buenos Aires, estavam preparados para comemorar o título da copa do Brasil ao lado do Obelisco. As memórias daquele momento de ansiedade e paixão permanecem vivas até hoje, mas algumas lembranças não são tão lindas assim.


Colorados - Memórias da Angela


Eram cerca de 19h quando começamos a nos arrumar para ir ver a final da Copa do Brasil entre Sport Club Internacional e Athletico Paranaense. Nós tínhamos perdido o primeiro jogo pelo placar de um a zero, mas nada poderia nos desanimar já que a final seria em casa, no gigante da Beira Rio. A confiança estava mais viva que nunca.





A camisa foi a primeira peça colocada na mala da viagem e, com todo o amor do mundo, ela se vestiu sobre o nosso peito para nos deslocarmos até o local do jogo. O clima estava fresco e fomos à procura de um táxi para ir até um consulado colorado que encontramos na internet. Particularmente, nem lembro como chegamos ao lugar, pegamos um táxi e em um portunhol enrolado mostramos o caminho ao motorista.


Ah, os olhos brilhavam e o coração batia tão forte que tremia o peito. Era lindo, o ambiente estava todo vermelho e branco. A bandeira com o símbolo do Inter preenchia cada espaço daquele lugar e havia muitos loucos apaixonados que entoavam em uma só voz nossos hinos.

“Inter, estaremos contigo, tu és minha paixão, não importam o que digam, sempre levarei comigo, minha camisa vermelha e a cachaça na mão, o gigante me espera, para começar a festa! Vamo vamo Inter!”.

A gente precisava de um gol para reverter o placar e ir para os pênaltis, mas a rede teimava em não balançar. Naquele dia o coração dos colorados foi testado diversas vezes. As falhas dos jogadores deixavam os torcedores ainda mais tensos. Até que veio o primeiro balde de água gelada. Gol do Athletico.


O choro já começou dar as caras naquela noite de quarta-feira, mas a esperança seguia viva até os noventa minutos. Foi então que Nico López acendeu mais ainda a esperança dos colorados. O jogador empatou o jogo. O título viria caso o Inter abrisse o placar com dois gols de diferença. Não parecia impossível, ainda tínhamos chances.


O cronômetro não parava e as lágrimas começaram a correr no rosto de cada apaixonado ali presente. Os cantos começaram a diminuir o volume e já não tínhamos mais unhas para roer. O jogo estava nos acréscimos e o empate dava o título ao adversário. Mas aos 51 minutos, o Athletico fechou o placar e colocou as duas mãos no título.


Todo o sentimento de angústia, raiva e decepção não puderam permanecer no peito e transbordaram. A esperança não existia mais. Eu esfregava os olhos para ter a certeza que aquilo era verdade. - Como assim Inter? - Os abraços de consolo também estavam presentes, porém quem ia consolar se todos os corações estavam incrédulos com o resultado?


Mas havia um choro diferente, ali no meio do mar colorado um Atleticano apaixonado vibrava intensamente com o título do clube, desesperado ao telefone ele gritava “Mãe, mãe o Athletico venceu”.


O que está acontecendo? - Memórias da Claudia


A noite de quarta-feira foi a mais esperada da viagem. Íamos em uma das maiores baladas LGBTQIA+ de Buenos Aires. Eu levei até um vestido especial para a ocasião e o meu coturno holográfico. Nada poderia me desanimar. Afinal, a melhor parte de viajar é conhecer novas pessoas - e novas línguas rs.


Ah, antes da festa também fomos a um bar assistir um jogo do Internacional. Eu estava mais afim pelo chopp e pelas boas companhias. Nunca fui fã de futebol e também não era apaixonada por nenhum time. Enquanto assistia, mandei várias fotos e vídeos para o meu pai, colorado de alma e coração.


Todos estavam animados. A euforia e a ansiedade dos meus amigos contagiavam. Entre um chute, uma batatinha frita, uma defesa, um grito da torcida, um gole de chopp e um pulo da cadeira, fui criando cada vez mais expectativas na vitória colorada. Até ver o rosto dos meus colegas entristecendo. O Inter estava perdendo a final da Copa do Brasil em casa e eu fiquei sem entender nada.


Naquele clima de velório, precisei ir ao banheiro. Quando voltei ouvi uma gritaria e em volta da minha turma um alvoroço. Eu estava um pouco tonta por causa da bebida e demorei alguns segundos para me situar. Quando me dei conta, Angela e Allan estavam me puxando pela mão para fora daquela aglomeração e ao encontro dos outros aprendizes de jornalista que corriam em direção a rua. Entramos no primeiro táxi disponível e fugimos dos colorados que não conhecíamos e que - por algum motivo que não entendi na hora - estavam revoltados com a gente.


A vitória - Memórias do Briann


O bar estava repleto de torcedores do Inter, mas eu não me intimidei quanto a isso. Desde os primeiros minutos do jogo, entoei em voz quase solitária as letras em torcida ao Athletico Paranaense, meu time do coração. Vibrei, xinguei, bati na mesa como todo torcedor fiel faz.





“Foi um momento muito especial. Eu nunca havia visto "ao vivo e a cores" um título do meu time, pois o brasileirão foi conquistado em 2001 e eu era muito pequeno ainda. Então em 2018 quando ganhamos a sul americana foi incrível, vi ao lado do meu pai que também é torcedor fanático. Já em 2019, o destino quis que víssemos a final da Copa do Brasil longe, comigo em outro país ainda por cima. Então nesse aspecto a experiência foi ainda mais marcante”.

Eu lembro de todos os detalhes daquela noite que vou guardar para sempre com todo o carinho em meu coração. Foi estranho comemorar um título nacional em território estrangeiro, mas "dei o meu melhor". Infelizmente minhas comemorações foram interrompidas antes do apito final.


Meus cantos incomodaram alguns torcedores do Internacional que estavam em imensa maioria no local onde víamos o jogo. A provocação é parte do jogo, tanto quanto a bola. O segredo é saber ganhar e perder, assim nenhuma briga seria vista por aí. Me recordo que não pude nem ver o apito final do jogo porque a pancadaria começou após o gol no final. Isso me deixou chateado, mas só depois mesmo. Naquele instante eu estava em êxtase total.


Os meus amigos que estavam no local tentando me acobertar desde o início precisaram me puxar pelo braço e fugir. Tiraram minha camisa do Athletico e me jogaram para dentro de um táxi. O momento foi de tensão, mas nada conseguiu apagar o sentimento de levantar a taça da Copa do Brasil em Buenos Aires. Liguei pro meu pai chorando e ele também estava. Comemoramos novamente por telefone mesmo. Omiti a parte de ter quase apanhado porque não queria preocupá-lo, mas depois acabei contando. Não me arrependo de nada e faria tudo de novo.


Dizem que a memória é nossa pior inimiga, pois traz à tona situações constrangedoras do passado. Mas para quem vivenciou esse momento eufórico em uma noite fria de Buenos Aires, com certeza as lembranças são amigas. Cenas como essa precisam ser relembradas e eternizadas em fotos, vídeos e até em folhas de revistas como esta. Aos futuros acadêmicos do curso: não se sintam inspirados por essa história!

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