Acadêmicos de Jornalismo criam equipe esportiva para cobrir copa do mundo e pôr em prática os aprendizados do curso
Por Gabriel Augusto Scheffer
Era o jogo Croácia x Rússia pelas quartas de final da Copa do Mundo masculina de futebol em 2018. Sem esperar, a hoje egressa do curso de Jornalismo da Unochapecó, Isabel Piccoli, teve a sua primeira experiência como narradora de uma partida de futebol. De início, ela ficou um pouco nervosa e teve dificuldade para pronunciar o nome de alguns jogadores russos. Porém, com a ajuda da equipe e muito entusiasmo, Isabel concluiu um trabalho inesquecível no que se refere ao seu percurso acadêmico. “Não tenho palavras para descrever. Foi uma experiência única na minha vida, uma experiência que me enriqueceu muito”, conta.
A vivência experimentada por Isabel só foi possível graças a um projeto idealizado pelos acadêmicos, juntamente com o professor da disciplina de Radiojornalismo. A iniciativa surgiu da ideia de fazer a cobertura da Copa do Mundo de 2018 de futebol masculino, realizada na Rússia. Mas o intuito não era narrar e apurar informações somente do esporte bretão. Pelo contrário, o principal objetivo do projeto foi, a partir de uma perspectiva nova e inovadora, fazer uma cobertura para além do futebol, com conteúdo sobre questões políticas, aspectos sociais, cultura e gastronomia do país sede. Tudo com preparação prévia dos estudantes.
Idealizado em parceria com o Núcleo de Radiojornalismo da Unochapecó, o projeto contou com a colaboração de 12 acadêmicos de diferentes períodos do curso, que se intercalaram nas funções de narração, comentaristas, repórteres e plantonistas, conforme cada um se sentisse confortável em fazer. As transmissões eram transmitidas ao vivo pelo Facebook da Web Rádio Clim. Para isso, a equipe fez a cobertura via tubo, ou seja, acompanhando o jogo por um monitor ou televisão. No total, foram transmitidos 10 jogos da copa, especialmente aqueles realizados a partir das oitavas de final.
Mas muito mais que trazer informações e cobrir jogos, o projeto de cobertura da Copa de 2018, proporcionou aos acadêmicos desenvolvimento profissional e também como pessoas. Com o planejamento e execução das atividades, foi possível aliar aspectos das teorias estudadas na Universidade com práticas profissionais que o mercado exige, que nem sempre são abordadas no espaço acadêmico, especialmente no que se refere às práticas de rádio.
Depois da experiência, Isabel desenvolveu outros trabalhos com foco no radiojornalismo, inclusive uma produção premiada no Expocom, além do seu TCC na mesma área. “Talvez se a gente não tivesse tido essa oportunidade, a gente não teria abrido a nossa mente e os nossos olhos para muita coisa”, explica.
Participante da equipe como repórter de campo e plantonista, ao trazer informações sobre países, atletas e confrontos, a também hoje egressa do curso de jornalismo, Valeria Cenci, diz ter vivido uma experiência inesquecível durante o período. E que além disso, sua participação contribui para desafios futuros, como a de estagiária. “As transmissões foram fundamentais na minha formação como jornalista e muito em função dessa oportunidade pude construir repertório e contatos com fontes o que foi de suma importância quando tive a oportunidade de fazer estágio na equipe esportiva da Rádio Oeste Capital”.
Isabel (primeira à esquerda) junto com a equipe que participou da
transmissão de Rússia x Croácia-Isabel Piccoli
Valeria ainda lembra com muito carinho a experiência que o curso propiciou. Só de lembrar das emoções vividas com a equipe, passa um filme em sua cabeça. “Quando o microfone ligava e a vinheta de abertura começava a tocar, era como se o que de mais importante do mundo estivesse naquele estúdio e nada mais existia. Eu arrepio até hoje ouvindo as vinhetas e me emociono com as transmissões e sinto que os colegas também sentem isso”, recorda ela.
Já para o egresso do curso de jornalismo, Dionatan Benetti, a cobertura foi de extrema importância para desenvolver habilidades que serviram para o desenvolvimento profissional atualmente, especialmente nas transmissões que ele realiza no futebol amador da região Oeste de Santa Catarina. “Ela foi um divisor de águas, no sentido de entender o que seria o jornalismo esportivo”.
Confira aqui a transmissão na íntegra realizada por Isabel na cobertura da Copa de 2018.
Participação feminina também é destaque
Além disso, a execução do projeto foi histórica e inovadora por também proporcionar a inclusão de mulheres em um espaço midiático que, historicamente, é ocupado por homens. Com três acadêmicas com funções na equipe esportiva, inclusive Isabel que narrou um jogo, a iniciativa demonstrou que lugar de mulher é onde ela bem entende.
Sem dúvida, a proposta serviu de exemplo para mostrar que a narração e coberturas esportivas também podem muito bem serem feitas por profissionais do sexo feminino. E muito bem feito, inclusive. Isso em um campo em que ainda predomina preconceito em relação à participação da mulher. Sobre este contexto, Isabel reafirma a importância de mais participação feminina na cobertura de esportes em geral, especialmente na mídia regional.
De acordo com ela, este é um tabu que precisa ser quebrado. “Uma barreira que a gente precisa vencer, uma barreira da oportunidade, da valorização, da inovação do mercado local porque a gente vê uma evolução muito grande enquanto país, enquanto Brasil, enquanto mundo. Lá fora a gente vê essa presença. Mas é um paradigma que ainda precisa ser quebrado aqui no mercado local esportivo”, lamenta.
Projeto rendeu bons frutos
Mas para quem pensa que os desdobramentos da cobertura da copa se encerraram em 2018, está enganado. Após a realização do projeto, a equipe apresentou a experiência no Expocom Regional Sul do ano de 2019, do qual o trabalho ficou entre os cinco melhores do Sul do país.
Apresentação do projeto no Expocom Regional Sul no ano de 2019.
Da esquerda para a direita, Valeria Cenci, Alexandre Madoglio, Isabel Piccoli e Dionatan Benetti- Curso de Jornalismo-Unochapecó
Por outro lado, inspirada pelas emoções que o radiojornalismo pode proporcionar, Isabel Picolli apresentou um radiodocumentário no Expocom sobre a participação feminina em coberturas esportivas e ficou em primeiro lugar. Além disso, para o seu Trabalho de Conclusão de Curso, ela produziu uma série de reportagens radiofônicas sobre a participação de mulheres camponesas em cooperativas rurais.
Dionatan Benetti, por sua parte, após a experiência com o núcleo esportivo e da cobertura da Copa do Mundo, contribuiu na idealização do projeto “Amador em destaque”. Uma equipe de cobertura do futebol amador que hoje é a maior de Chapecó e região.
Sem dúvida, muito mais que informação e emoção esportiva, o projeto de cobertura da copa de 2018 serviu para, além de aliar teoria e prática, formar profissionais que hoje fazem a diferença.
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